A BYD, renomada fabricante chinesa de carros elétricos, está em processo de negociação para adquirir uma empresa produtora de lítio no Brasil, intensificando a competição global para assegurar recursos essenciais para a crescente indústria de veículos elétricos.
Alexandre Baldy, presidente da BYD no Brasil, revelou que a empresa tem mantido conversações com a Sigma Lithium, que possui uma avaliação de mercado de US$ 2,9 bilhões (equivalente a R$ 14,34 bilhões). As discussões giram em torno de possíveis acordos que podem incluir fornecimento, formação de joint venture ou mesmo a aquisição completa da Sigma.
A Sigma Lithium, já operando uma mina de rocha dura e uma planta de processamento no estado de Minas Gerais, começou a exportar o metal no ano passado. Este elemento é crucial para a fabricação de baterias de veículos elétricos. Em fevereiro, surgiram notícias de que a empresa poderia estar no radar de Elon Musk. Após sete meses, a Sigma anunciou que estava avaliando ofertas de venda, mas até o momento não confirmou os nomes dos possíveis interessados.
A BYD, apoiada pela Berkshire Hathaway de Warren Buffett, destacou-se no início deste ano ao ultrapassar a Tesla, tornando-se a maior fabricante de veículos elétricos do mundo.
A empresa está expandindo suas operações globalmente, com a construção de sua primeira fábrica de carros elétricos fora da Ásia, localizada no Brasil, parte de um investimento de R$ 3 bilhões. Este movimento ilustra o compromisso da BYD em fortalecer sua presença no mercado internacional.
No contexto de estabelecer uma cadeia de suprimentos integrada para seus veículos elétricos no Brasil, Alexandre Baldy, presidente da BYD no país, mencionou que a empresa mantém um diálogo “ativo” com a Sigma Lithium, que está listada nas bolsas de valores de Toronto e Nasdaq, em Nova York. A Sigma é uma figura chave no mercado de lítio, um componente vital para as baterias de veículos elétricos.
Baldy revelou que a BYD está explorando várias possibilidades com a Sigma, incluindo acordos de fornecimento, a formação de uma joint venture, ou até mesmo uma aquisição. “Estamos discutindo diferentes aspectos sobre fornecimento, uma joint venture, uma aquisição… nada é concreto”, disse ele.
Ele também mencionou um encontro recente com Ana Cabral Gardner, CEO da Sigma, em São Paulo, mas não forneceu detalhes adicionais devido a um acordo de confidencialidade. A Sigma, por sua vez, optou por não comentar sobre as negociações.
Os avanços da BYD no Brasil fazem parte de uma tendência mais ampla de expansão internacional por parte de empresas chinesas especializadas em veículos elétricos e energia renovável. Com sede em Shenzhen, a BYD não apenas foca no mercado brasileiro, mas também tem planos de estabelecer uma fábrica de veículos elétricos na Hungria e está em negociações para abrir uma instalação no México.
Entretanto, essa crescente presença global da China no setor de tecnologia limpa tem levantado algumas preocupações internacionais. Há um temor crescente sobre as ambições de Pequim em alcançar superioridade tecnológica e controlar recursos cruciais para as indústrias de tecnologia limpa e veículos elétricos.
Nos Estados Unidos, a administração de Joe Biden tem adotado medidas para limitar a expansão da manufatura chinesa em território americano. Na Europa, as atividades da indústria de veículos elétricos da China estão sob escrutínio devido a alegações de concorrência desleal.
No Canadá, em 2022, o governo de Justin Trudeau tomou uma decisão significativa, ordenando que três empresas chinesas vendessem suas participações em empresas de mineração de lítio listadas em Toronto, algumas das quais possuíam ativos fora do Canadá. Essa ação reflete a cautela crescente em relação à influência chinesa em setores estratégicos globalmente.
O êxito da BYD na China, especialmente na venda de veículos elétricos tecnologicamente avançados a preços acessíveis, está ligado ao seu controle extensivo sobre grande parte de sua cadeia de suprimentos. Isso inclui não apenas as minas de onde os recursos são extraídos, mas também a produção de componentes críticos como baterias e chips de computador.
Essa abordagem de gestão integrada da cadeia de suprimentos é uma tendência crescente entre os principais fabricantes de automóveis, especialmente no contexto da transição para veículos elétricos. Muitas dessas empresas estão formando parcerias diretas com mineradoras para assegurar o fornecimento contínuo de lítio, um elemento essencial para a descarbonização das frotas automotivas globais.
No entanto, a Sigma Lithium, foco das negociações da BYD no Brasil, enfrentou alguns desafios financeiros em seu primeiro ano de produção. A empresa registrou uma perda líquida de US$ 19 milhões (cerca de R$ 94 milhões) nos primeiros nove meses de 2023, o que representa quase metade da perda registrada no mesmo período do ano anterior.
Além disso, as ações da Sigma sofreram uma queda aproximada de um terço em valor nos últimos seis meses. Esse declínio está relacionado à redução significativa nos preços do lítio, que gerou preocupações no mercado quanto à possibilidade de uma oferta excessiva desse recurso crucial para a indústria de veículos elétricos.
O conselho da Sigma Lithium está atualmente realizando uma revisão estratégica, considerando opções que incluem a venda da empresa ou a listagem de sua unidade brasileira nas bolsas de valores Nasdaq e de Cingapura.
Embora a Sigma seja uma entidade registrada em Vancouver, Canadá, seus ativos principais estão situados no Brasil. A maior acionista da empresa é a A10 Investimentos, co-fundada pela CEO da Sigma e seu co-presidente.
Relatórios da revista Exame no final do ano passado indicaram que tanto a Volkswagen quanto a CATL, uma fabricante chinesa de baterias, estariam interessadas na aquisição da Sigma. A Volkswagen se manifestou sobre o assunto, dizendo: “Estamos explorando o mercado e conversando com diversos parceiros em diferentes regiões do mundo”, mas não fez comentários sobre “rumores de mercado”.
Os maiores produtores de lítio em 2022 foram a Austrália, o Chile, a China e a Argentina, seguidos pelo Brasil, de acordo com a Statista. A Sigma se especializa na extração de espodumênio, que é processado para produzir concentrado de lítio de grau de bateria. A empresa tem planos para triplicar sua capacidade de produção anual, que atualmente é de 270 mil toneladas.
Até o momento, nem a empresa controladora da BYD nem a CATL responderam a pedidos de comentários sobre o assunto.