O agronegócio brasileiro, protagonista de um crescimento exponencial nas últimas décadas, mantém uma trajetória ascendente que tem colocado o Brasil como uma das principais potências mundiais do setor. Com impressionantes números de produção e exportação de produtos como soja, milho, arroz, feijão, algodão, celulose, café, carne bovina e de frango, açúcar, suco de laranja, entre muitos outros, o país tem conquistado seu espaço no mercado global de alimentos.
Esse sucesso transcende as fronteiras nacionais, enquadrando o Brasil como um dos principais protagonistas da produção e exportação de mantimentos em escala mundial. E, entre os países que têm se beneficiado significativamente com essa trajetória, a Venezuela surge como um cliente de destaque, apresentando números que impressionam.
Nesta reportagem especial dedicada ao agronegócio, trazemos à tona uma Venezuela muitas vezes desconhecida, raramente retratada em sua real dimensão como protagonista desse cenário.
Venezuela em números
Nos últimos cinco anos, a Venezuela se destacou como o principal importador de arroz brasileiro, gerando uma receita expressiva de US$ 502 milhões, representando cerca de 21% das exportações desse produto. Outros países, como Senegal, Peru, México, Cuba e Gâmbia, também figuram como grandes importadores.
Curiosamente, a disparada das exportações do agronegócio brasileiro para a Venezuela aconteceu durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), que promoveu uma gestão federal alinhada ao espectro político de direita. Esse crescimento ocorreu mesmo após um rompimento diplomático entre os dois países.
Entre 2019 e 2022, o Brasil registrou um faturamento de US$ 517 milhões com as exportações de óleo de soja para a Venezuela, atualmente considerado o principal item exportado para esse país. Esse montante supera em muito a soma dos quinze anos anteriores, que totalizou US$ 319 milhões. Além disso, durante esse período, as exportações de cereais, como milho e arroz, também experimentaram um notável aumento.
Brasil disparado
Para se ter uma ideia da grandiosidade desse cenário, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) registra que, em 1977, o Brasil produzia cerca de 46 milhões de toneladas de grãos. Contudo, atualmente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que, apenas na safra 2022/23, o país alcance a marca de mais de 300 milhões de toneladas de grãos, um aumento de mais de 500% nas últimas quatro décadas. Essa evolução não se restringe aos grãos, pois produtos agropecuários como frango, leite e frutas também registraram um crescimento notável nesse período.
País vizinho ascende
Voltando à Venezuela, os números dos últimos 4 anos, período em que Bolsonaro esteve à frente do Palácio do Planalto, o cenário mudou consideravelmente. Mesmo em meio à pandemia, em 2021, o fluxo de exportações para o mercado venezuelano ganhou um novo ritmo, ultrapassando a marca de US$ 1 bilhão.
Em 2022, esse valor foi amplamente superado, com mais de US$ 713 milhões exportados até junho daquele ano. As exportações foram lideradas pelos sustentos e produtos agrícolas. As vendas de óleo de soja brasileiro aumentaram significativamente, passando de meros US$ 29 milhões no início do governo Bolsonaro para US$ 189 milhões. Além disso, produtos como ‘preparações alimentícias’ e ‘enchidos de carne’, como são chamados, viram seus números subirem de US$ 4 milhões para US$ 75 milhões no mesmo período. O comércio de açúcar foi destaque, com vendas alcançando US$ 120 milhões durante a gestão Bolsonaro. Saltos impressionantes foram registrados também no comércio de milho, margarina e até bolachas brasileiras.
Uma outra Venezuela
Nesse cenário, o agrônomo e empresário Paulo Wires, responsável pela empresa Agrocienes, destaca a importância do Brasil na sustentabilidade da demanda de mantimentos da Venezuela, por meio de suas exportações agrícolas. Ele enfatiza que a atuação brasileira desempenha um papel essencial na garantia da segurança alimentar do país vizinho.
A segurança alimentar, segundo Wires, envolve uma série de fatores, desde a prevenção de doenças transmitidas por alimentações até a preservação da qualidade dos produtos e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis. A Venezuela, historicamente, enfrenta desafios significativos em sua produção agrícola, agravados nos últimos anos por fatores como instabilidade política e econômica. Isso resultou em uma redução na produção de subsistências e na crescente dependência das importações para suprir as necessidades de sua população.
Pagadora confiável
No entanto, ao contrário de algumas percepções, o empresário observa que a Venezuela, sob a liderança de Nicolás Maduro, tem preservado seu compromisso como pagador confiável, honrando suas aquisições do setor agrícola e, muitas vezes, realizando pagamentos antecipados a órgãos estatais brasileiros.
Agro exportador
Diante da demanda venezuelana, o Brasil emergiu como um parceiro-chave na garantia da disponibilidade de mantimentos. Suas exportações de produtos agrícolas, como grãos, carne e produtos lácteos, desempenham um papel vital no abastecimento de itens básicos para a população. Essa interdependência econômica tem fortalecido os laços comerciais entre os dois países e desempenhado um papel crucial na mitigação da insegurança alimentar.
Além dos benefícios comerciais, essa relação bilateral também tem impactado diretamente na estabilidade regional e no bem-estar das populações, destaca Paulo Wires. Ao garantir o acesso da Venezuela a alimentos essenciais, o Brasil contribui para a redução das tensões sociais e a promoção da estabilidade política na região, acrescenta o empresário. Segundo ele, a diversidade da produção agrícola brasileira oferece uma vantagem significativa à Venezuela, permitindo-lhe o acesso a uma dieta equilibrada e nutritiva, mesmo em tempos de escassez.