Diante do iminente julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode levar à inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), uma pesquisa sobre o futuro da direita no Brasil revelou que a maioria dos eleitores desse campo político está aberta a novas lideranças.
O estudo, intitulado “Para onde vai a direita”, conduzido pelo Instituto Locomotiva e pelo Ideia Instituto de Pesquisa, revelou que 54% dos eleitores que se identificam com a direita estão receptivos a outras lideranças. Esses eleitores representam os 58 milhões de votos que Bolsonaro recebeu em 2022.
Da mesma forma, 28% dos eleitores afirmaram que apoiariam outros líderes de direita, desde que estivessem ao lado de Bolsonaro. Um grupo formado por 18% de eleitores não reconhece nenhum outro político capaz de liderar a direita além de Bolsonaro.
Cenário de inegibilidade
Nos bastidores, o PL já está se preparando para a possibilidade de Jair Bolsonaro ser declarado inelegível pelo TSE e planeja investir na exposição da possível perseguição estaria sendo vítima, uma estratégia que, segundo pesquisas internas, poderia encontrar ressonância entre seus apoiadores. Neste cenário pessimista, o partido pretende contar com Bolsonaro como cabo eleitoral nas eleições de 2024 e 2026.
Eleições 2024
Nas eleições municipais de 2024, a cúpula do PL tem indicado interesse em afiliar Ricardo Nunes para apoiá-lo na reeleição para a prefeitura de São Paulo. No entanto, o apoio ainda não foi chancelado e oficializado por Jair Bolsonaro. Além disso, o ex-presidente terá a missão de tentar eleger o futuro prefeito do Rio de Janeiro, sendo o ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente Walter Braga Netto o nome mais cotado no PL.
Eleições 2026
Quanto a 2026, nos bastidores, Tarcísio de Freitas ainda é mencionado como um forte candidato à reeleição, mas muita coisa pode mudar nos próximos três anos e meio. Michelle Bolsonaro é a aposta do PL para o cargo de senadora pelo Distrito Federal.
Intervenção estatal na economia
A pesquisa também revelou que cerca de 60% das pessoas que votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiam a intervenção do governo na economia do país, enquanto a maioria dos eleitores de Jair Bolsonaro, aproximadamente 60% dos entrevistados de direita, não concordam com essa medida de intervenção estatal.
Da mesma forma, uma parcela maior dos eleitores de direita acredita que o governo não deveria ter permissão para interferir na redução das taxas de juros, ou seja, defendem maior autonomia do Banco Central: 60% possuem essa opinião, em comparação com 54% dos eleitores de Lula são contra a autonomia do Banco Central e defendem maior intervenção estatal na redução dos juros e 34% não possuem opinião formada no assunto.
O levantamento foi realizado pelo Zeitgeist Public Affairs, uma divisão dos Institutos Locomotiva e Ideia de Pesquisa, e ouviu 1.531 eleitores em todo o país por telefone, nos dias 30 e 31 de maio. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.
STF e urnas eletrônicas
Uma informação interessante é que, segundo pesquisa, 61% dos seguidores de Bolsonaro consideram o Supremo Tribunal Federal (STF) uma ameaça à democracia. Em contrapartida, o mesmo percentual de eleitores de Lula (61%) afirmou que a Corte é fundamental para a defesa da democracia no Brasil.
No que diz respeito às urnas eletrônicas, 76% dos eleitores de Lula têm confiança nelas, enquanto 51% dos apoiadores de Bolsonaro expressaram a opinião de que não são seguras.
Arrependimento
A pesquisa mostrou que os eleitores de Lula se arrependeram em maior proporção do voto dado ao atual presidente petista (7%) em comparação com os eleitores de Bolsonaro (5%).
Maurício Moura, fundador do Instituto Ideia e do Zaftra Fund, afirma que a pesquisa reforça aspectos já presentes na conjuntura política internacional, como a “polarização que impede o surgimento de alternativas centristas” e temas relacionados a valores e moral que dominam o debate em relação a “questões concretas de administração pública”.
Possíveis sucessores
Dentre os possíveis sucessores de Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também recebeu menção, porém, Michelle Bolsonaro se destacou por ter um alto grau de reconhecimento entre os brasileiros, sendo percebida como uma continuidade do governo de Bolsonaro e possuindo a capacidade de exercer a Presidência, de acordo com os entrevistados.
Tarcísio de Freitas surge com uma percepção maior de capacidade para se tornar presidente, mas ficou atrás de Michelle em termos de conhecimento público. Os pesquisadores avaliam que esse fator pode ser revertido com uma exposição maior de Tarcísio no governo de São Paulo.
Outras lideranças, como o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB) – ambos ex-candidatos à presidência – e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), são mencionados no estudo, mas não são apontados como líderes da direita.
Com um menor nível de reconhecimento popular, quatro governadores também foram lembrados como líderes de direita: Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná. No entanto, nenhum deles se destaca como um potencial sucessor de Bolsonaro.