O polêmico Foro de São Paulo deve protagonizar mais um grande encontro no Brasil.
A entidade que reúne partidos de esquerda latino-americanos, segundo informações da coluna Painel, da Folha de S. Paulo, se articula para fazer sua primeira reunião presencial desde a pandemia.
O encontro deve ocorrer em junho, na capital federal do país. Internamente, o assunto tem sido tratado como “retomada do Foro”, diz a coluna.
Várias ditaduras compõem a lista de integrantes da organização, dentre elas a Nicarágua, que tem a Frente Sandinista de Libertação Nacional, partido do tirano da Nicaragua, Daniel Ortega, em destaque.
Também fazem parte do Foro de São Paulo o Partido Socialista Unido da Venezuela, do ditador Nicolás Maduro, e o Partido Comunista Cubano.
Ainda conforme a coluna Painel, ainda não há confirmação da lista de participantes. A expectativa é que representantes das legendas desembarquem em Brasília para o encontro.
O que é o Foro de São Paulo?
A idealização do Foro de São Paulo ganhou forma no ano em que o Muro de Berlim caiu, e o socialismo passou a entrar em crise.
“Em 1990 a União Soviética ainda existia, mas Fidel estava preocupado com a ofensiva neoliberal na região”, é o que relatou à BBC News Brasil o historiador Valter Pomar, secretário-executivo do Foro de 2005 a 2013 e autor do livro “Foro de São Paulo: construindo a integração latino-americana e caribenha”.
A partir desse entendimento, surgiu os primeiros encontros, protagonizado em São Paulo, a partir de 1990. À época, contavam com mais de 50 grupos políticos.
Entre 2008 e 2009, período de ápice da entidade, o Foro de São Paulo abrigava partidos de líderes de países como Brasil, Argentina, Bolívia, Venezuela, Equador, entre outros. Sob alegação de facilitar o comércio e as trocas sociais e culturais entre todos os países da América Latina, surgiu em maio daquele mesmo ano, a fundação da Unasul, União das Nações Sul-americanas.
De volta à Unasul
Neste mês de abril, inclusive, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto que oficializa o retorno do Brasil à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), marcando uma nova guinada à esquerda a partir de 2023. O país havia deixado o bloco em 2019, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O Decreto nº 11.475/2023 foi publicado dia 6 de abril no Diário Oficial da União e promulga o Tratado Constitutivo da Unasul. O texto entra em vigor em 6 de maio e, com isso, coloca o país de volta ao grupo criado durante o segundo governo do presidente Lula, em maio 2008.
O que dizem críticos e opositores
Para o falecido professor, escritor e filósofo Olavo de Carvalho (1947-2022), tido como expoente do conservadorismo político no Brasil, o Foro de São Paulo representa uma grande ameaça para mundo.
— O Foro de São Paulo é a maior organização política que já existiu no continente latino-americano. Acho que nem nos Estados Unidos há uma organização que reúna 200 partidos políticos e mais quadrilhas de narcotraficantes, sequestradores, etc. etc. É um negócio monstruoso — afirmou Olavo em vídeo publicado em julho de 2019.
No ano seguinte, em 2020, o filósofo definiu o Foro de São Paulo como “inimigo número 1” do Brasil, destacando que sua influência foi mascarada durante anos.
— O Foro de São Paulo foi escondido pela mídia nacional durante 16 anos, foi a maior fraude jornalística da história humana — disse Olavo em entrevista à BBC Brasil.
De acordo com ele, que classificava o ajuntamento como um grupo criminoso, a entidade não só é um segmento com visões opostas, mas é uma organização com estrutura e poder para influenciar o jogo político de diferentes países.
Nada moderado
Em outubro 2022, mês que protagonizou as eleições presidenciais no Brasil, o jornal O Estado de S. Paulo (Estadão) rebateu os argumentos do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva sobre uma suposta postura moderada do Foro de São Paulo.
A organização, fundada em 1990 pelo petista e pelo ditador cubano Fidel Castro, reúne partidos de esquerda de diversos países da América Latina e do Caribe.
— O Foro, uma verdadeira frente ampla autocrática, já nasceu retrógrado — afirmou o jornal, por meio de um editorial, mencionando que a organização subverteu a democracia e desrespeitou os direitos humanos em todos os países por onde atuou, especialmente na América Latina e no Caribe.
— O fracasso em cada um desses compromissos foi retumbante e catastrófico para os povos de países como Venezuela, Cuba ou Nicarágua, mergulhados sempre mais fundo na miséria econômica, social, política e moral por ditaduras militares comandadas por clãs familiares — pontuou o veículo.
O Estadão também frisou os antigos laços de amizade de Lula com o ditador Daniel Ortega. — Se é flagrante que Lula não conseguiu ‘moderar’ a esquerda latino-americana, é questionável se conseguiu moderar seu próprio partido — diz o texto.
— De fato, a luta do PT se deu com outras armas: uma oposição irresponsável, que sabotou todo tipo de política econômica na expectativa de que a ruína do país favorecesse os projetos de poder de Lula; e um governo ainda mais irresponsável, que subornou parlamentares, aparelhou a máquina pública e atropelou as regras fiscais para sustentar sua ambição hegemônica ao poder — emendou o jornal.
Esfera legislativa
Já Christine Nogueira dos Reis Tonietto, mais conhecida como Chris Tonietto, advogada e deputada federal pelo Estado do Rio de Janeiro, entende que o Foro de São Pulo é arranjo que necessita de uma profunda investigação.
Em 2019, ela protagonizou uma defesa ampla em prol da abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em torno do Foro.
Na avaliação da congressista fluminense, há indícios de que o dinheiro do Brasil tenha sido usado para bancar ditaduras e ditadores na América Central, na América do Sul e na África.
Em entrevista sobre o tema, a deputada externou que não se trata de “uma reunião anual de debates” de esquerdistas, mas um agrupamento permanente “de uma centena de partidos legais e várias organizações criminosas ligadas ao narcotráfico e à indústria dos sequestros, como as Farc e o MIR Chileno, todas empenhadas numa articulação estratégica comum e na busca de vantagens mútuas”.
A Operação Lava Jato, que contou com 80 fases operacionais autorizadas, chegou a mirar um esquema de verbas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nutrindo obras no exterior tocadas por empreiteiras brasileiras. Os maiores beneficiários dessas obras, segundo os desdobramentos, foram governos de esquerda aliados a Lula e Dilma Rousseff (PT), ao longo dos 14 anos de governo do Partido dos Trabalhadores.