Os cantores Kleber Lucas e Leonardo Gonçalves, ambos do segmento gospel, estão dando o que falar nos últimos meses. Isso porque os dois, apesar de evangélicos, possuem um espectro político de esquerda.
O posicionamento não converge com a linha seguida pela maioria do grupo religioso. Trata-se, na verdade, de uma minoria, mas que tem ganhado protagonismo nas redes sociais, especialmente pelo palco dado em redutos políticos de esquerda.
Os dois músicos, que se tornaram conhecidos em igrejas tradicionais, de viés conservador, agora marcham em direção contrária ao local onde permaneceram por décadas, inclusive com agendas de eventos e programações nutridas por lideranças que agora, de forma pública, têm sido criticadas por ambos.
Kleber e Leonardo estão confirmados na posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que é uma liderança política amplamente rejeitada por parte da comunidade cristã. Os principais líderes deste eixo religioso dizem que Lula não possui nenhum enquadramento com os princípios cristãos. É dito que não há como uma pessoa professar a fé cristã e se declarar de esquerda, uma vez que ambos ideais são divergentes e entram em zona de conflito.
Em 2018 e 2022, anos de eleições gerais no país, o eleitorado evangélico fechou apoio massivo em pró do candidato Jair Bolsonaro, que é de direita, e disputou o Palácio do Planalto sob bandeiras do conservadorismo, pelo PSL e PL, respectivamente.
Falas polêmicas
Recentemente, Kleber Lucas participou de um podcast ao lado do cantor secular Caetano Veloso e comentou, entre outras coisas, sobre como brancos e negros entoam o hino 39 da Harpa Cristã com emoção, sugerindo que o hino teria teor racista.
— Tem um hino que fala o seguinte: ‘Alvo mais que a neve’. Se você aceitar Jesus, você vai ficar branco como a neve. Isso é cantado por brancos e negros com lágrimas — externou.
Na sequência, ele chegou a dizer que a canção “tem uma melodia lindíssima”, mas supostamente carregando um discurso “nefasto e de dominação”.
— Porque o sangue de Jesus me torna branco. As ideias de embranquecimento estão lá no hino — relatou.
A declaração não agradou a comunidade cristã, especialmente o meio evangélico.
Nas redes sociais, diversos pastores, músicos, lideranças, páginas, artistas e influenciadores digitais teceram duras críticas ao que, segundo eles, tratam-se de heresias, que é um termo usado para descrever algo que não tem embasamento bíblico, mas fomento de visões que não condizem com o teor litúrgico.
Um dos nomes em evidência a rebater Kleber Lucas foi o pastor e deputado federal Marco Feliciano, que compõe a Bancada Evangélica no Congresso.
O parlamentar, que é líder da Assembleia de Deus, se mostrou decepcionado com o cantor, visto que a inspiração para o hino 39 da Harpa Cristã é a própria Bíblia Sagrada.
— Então, eu te pergunto, Kleber, o que fazer com o texto bíblico de Isaías 1:18? Rasgar a Bíblia? Apagar a Bíblia? Processar via lei para que se retire o tal texto racista? Poxa! Onde chegamos? Eu confesso, isso me embrulhou o estômago vindo de um levita, um pastor, cujos louvores me fizeram adorar a Deus com intensidade — disse Feliciano.
O parlamentar também chamou o artista de “pregoeiro da loucura socialista comunista”.
Novo embate
Após as falas polêmicas de Kleber Lucas, foi a vez de Leonardo Gonçalves abrir questionamentos de mais um hino cristão. Dessa vez, o alvo foi a música ‘Nosso General É Cristo’, de autoria de Adhemar de Campos, um dos nomes consagrados do meio evangélico.
Aos 70 anos de idade, o veterano acumula uma trajetória de missões pelo Brasil, além de um longo percurso de ações sociais e evangelísticas ao redor do mundo, especialmente em zonas globais onde os Direitos Humanos são violados, sem garantias básicas como profissão pública de fé, posicionamentos políticos e até mesmo o direito de liberdade de ir e vir. Engajado no eixo religioso, Campos é referência no país e emplacou diversos sucessos no meio musical, como Grande É O Senhor, Amigo de Deus, Tributo A Iehovah e Eu Navegarei.
Outra canção de grande sucesso é ‘Nosso General’, que agora passa a ser problematizada por Leonardo Gonçalves. Ao dar sua visão sobre composições cristãs que, segundo ele, com o passar dos anos perderam os sentidos originais, o músico alega que o coro pode não ser bem recebido por pessoas que foram torturadas durante as ditaduras militares que aconteceram na América Latina.
— Depois de incontáveis ditaduras militares na América Latina com uma penca de militares e até generais comprovadamente torturadores, em especial pra alguém, por exemplo, que foi torturado por um general, como você acha que soa cantar “o nosso general é Cristo”? — indagou.
Ainda de acordo com a problematização, essas músicas são responsáveis por uma suposta visão “bélica” que muitos evangélicos têm.
— A visão bélica que grande parte dos evangélicos de hoje têm do Evangelho e do evangelicalismo e do próprio Deus passa também pelas músicas. Muitas delas marchas. Muitas usando linguagem de guerra e expressões como “general” e etc — acrescentou.]
Após a exposição, assuntos relacionados tema chegou a ocupar os assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.
Eis a íntegra do posicionamento de Leonardo Gonçalves.