O Conexão Política entrevistou, com exclusividade, o youtuber Bruno Aiub, de 31 anos, mais conhecido como Monark, que foi um dos fundadores do ‘Flow’, um dos maiores podcasts do país.
A fama de Aiub começou a ser construída na internet em 2010, ano em que começou a publicar vídeos no YouTube sobre jogos de Minecraft. À época, o interesse do jovem era ajudar amigos e conhecidos, traçando dicas e estratégias do game com base naquilo que ele conhecia.
O que era pra ser apenas uma diversão, sem nenhuma perspectiva de monetização, tornou-se um grande fenômeno virtual. Em seu auge, chegou a cravar 2 milhões de inscritos na plataforma.
Filho de uma psicóloga e de um analista de sistemas, Monark pôde encontrar nos pais o apoio necessário para sair de casa e escrever sua própria história. Em constante crescimento, tornou-se um dos maiores youtubers do país.
Em 2018, ao lado de Igor Coelho, o Igor 3k, criou um programa de entrevistas no estilo “conversa de bar”. Na atração, a dupla entrevistava personalidades dos mais variados segmentos, do entretenimento à política.
Em pouco tempo, o novo formato adquiriu projeção e vários outros podcasts passaram a surgir em todo o Brasil a partir daquela mesma ideia: conversa informal, sem roteiro e com convidados diversificados.
Após muito trabalho, o plano deu certo. Poucos anos depois, a empresa Estúdios Flow atingiu reconhecimento, conquistou patrocinadores e contratou cerca de 80 funcionários.
O programa caiu nas graças do público pela habilidade de os entrevistadores transitarem por todos os espectros da política, entrevistando figuras como congressistas, ministros de Estado, juristas, jornalistas, autoridades e personalidades políticos das mais variadas vertentes ideológicas.
A queda
Monark sempre foi considerado polêmico por não se alinhar a grupos ideológicos específicos nem estar ligado diretamente a uma ideia política. Isso o rendeu bons frutos, mas também lhe trouxe alguns apuros.
Por diversas vezes, declarações de Monark o fizeram ser “cancelado” nas redes sociais. Esquerda, direita, centro… Ele conseguiu “incomodar” as mais variadas matizes políticas.
Muito à vontade para discordar do entrevistado, se fosse o caso, Bruno Aiub já esteve envolvido em diversas polêmicas por conta de suas falas no ‘Flow’, em conversas que, muitas vezes, eram acompanhadas com algum tipo de bebida alcoólica.
Mas as consequências foram ainda mais danosas quando, em um programa exibido em fevereiro, ao comentar sobre regimes radicais de esquerda e de direita, e ao abordar o conceito de liberdade de expressão, Monark citou a possibilidade de existir “um partido nazista no Brasil, reconhecido por lei”.
O mundo caiu em sua cabeça. E ele reconhece a besteira que falou, pedindo desculpas no seguinte. Mas já era tarde. Diversos patrocinadores abandonaram o programa, o YouTube puniu o canal de entrevistas com desmonetização e diversas entidades ligadas ao povo judeu repudiaram a fala do apresentador.
Na ocasião, a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) divulgou uma nota condenando de forma veemente a fala do youtuber. A Federação Israelita de São Paulo (FISESP) também se manifestou no mesmo sentido. Diversos contratos foram rompidos e Monark deixou a empresa que ele ajudou a criar e detinha 50% das ações.
Recomeço
Desde a declaração controversa, Monark ficou afastado das redes sociais e passou a maior parte do tempo em casa. Tentou criar uma nova conta no YouTube, mas a plataforma o baniu e não autorizou a criação do perfil.
Mesmo com medidas institucionais sendo implementadas, com o desligamento de Aiub do quadro societário do Flow e com as consequências administrativas e judiciais que foram ingressadas, o youtuber se viu num cenário muito complicado, sem ter ao menos a chance de retornar à internet e criar conteúdos.
Foi então que, através do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, Monark iniciou uma série de negociações com a plataforma canadense Rumble, uma rede social parecida com o YouTube – mas que procura se diferenciar com a promessa de respeito à liberdade de expressão.
Em declaração à nossa equipe, Monark revelou que foi contratado pela rede social, que visa operar também no Brasil. A partir desta segunda-feira (4), ele estreará seu novo podcast na plataforma que possui cerca de 40 milhões de usuários ativos.
Segundo ele, a atração ‘Monark Talk’ será exibida de três a cinco vezes por semana. A íntegra será transmitida no Rumble, mas os cortes poderão ser publicados em todas as outras redes sociais.
“Foi injusto o que aconteceu. O Flow continuou sendo punido mesmo depois de eu ter saído de lá. […] Isso só prova o quanto as Big Techs detêm um monopólio, e estão cagando para a sua voz e para o correto”, afirma.
“No Brasil, o cara faz uma canetada e bloqueia o Telegram para milhões de pessoas, pela desculpa de fake news. Como se no YouTube não tivesse fake news, como se em qualquer outro lugar não tivesse fake news. […] É só mais um jeito de criarem ferramentas de controle para tirarem as vozes que são impactantes ao próprio poder deles”, acrescenta.
Estreia marcada
Já no ar, a primeira entrevista de Monark em seu novo podcast será com o youtuber Venom Extreme, que possui um canal no YouTube com quase 7 milhões de inscritos e cerca de 1 bilhão de visualizações.
Mesmo com seu projeto ainda em fase inicial, Monark contou à nossa equipe que possui um contrato junto ao Rumble que lhe garante uma quantia mínima financeira “muito boa” e que não lhe traz preocupações. Mesmo assim, afirma querer buscar patrocinadores, desde que sejam empresas alinhadas à ideia de livre expressão.
“Eu quero buscar patrocinadores, mas que eles comprem essa visão de liberdade de expressão que eu tenho. […] Essa é uma briga que as pessoas estão percebendo. Tem o time da galera que censura, que acha a censura algo positivo, mas tem o time pró-liberdade, que é um time forte e vai crescer. […] As marcas que se posicionarem a favor nesse time [da liberdade] irão crescer junto com essa onda”, defende.
“O brasileiro está cansado de censura. […] Todo youtuber reclama, o público enxerga. E, na minha opinião, isso vai trazer para o Rumble uma força competitiva muito boa”, opina.
“Vai ser quase todo dia podcast, com vários candidatos diferentes, vamos continuar tendo a discussão. […] Só não vou beber tanto. Eu prometi a mim mesmo que estou proibido de ficar bêbado no meu podcast. Não dá muito certo [risos]”, finaliza.
Rumble
A interface do Rumble, de certa forma, lembra a do concorrente, com reproduções em destaque por meio de imagens e títulos. No entanto, há uma organização mais intencional de conteúdos, focando em tópicos específicos, como notícias, entretenimento, podcasts, ciência e esportes.
Por conta de sua postura, o Rumble até ganhou o apelido de “YouTube liberal”, em razão de sua proposta de não interferir de forma subjetiva nem perseguir determinadas visões de mundo.
Um dos nomes de maior relevância no Rumble é o republicano Donald Trump. Na plataforma, o ex-presidente americano publica vídeos todas as semanas, focando em ampliar o contato com seus simpatizantes e eleitores. Seu filho, Donald Trump Jr., também publica conteúdos no mesmo sentido.