A menos de 52 dias para as eleições gerais de outubro, um novo levantamento inédito da G10 Favelas/Favela Diz, veiculada na última terça-feira (9), mostra uma disputa acirrada nas comunidades periféricas do país entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.
De acordo com a sondagem, o petista tem a preferência de 38% do eleitorado. O atual chefe do Executivo federal, por sua vez, aparece com 31% das intenções de voto.
No cenário espontâneo, quando não são apresentados os nomes dos candidatos, os dados permanecem semelhantes, com diferença de 7 pontos entre Lula e Bolsonaro.
Os moradores de favelas correspondem a 8% da população brasileira. Conforme o instituto, os resultados representam 17 milhões de pessoas.
O ‘Favela Diz’, contratada pelo ‘G10 Favelas’, ouviu por telefone 2 mil pessoas moradoras de favelas de 64 municípios, distribuídos entre 24 das 27 unidades federativas, entre os dias 28 de julho e 4 de agosto. O índice de confiabilidade é de 95%, sob o registro BR-09451/2022 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Eis a íntegra dos números.
A realidade deste grupo social
Em 2020 —ano marcado pelo pico da crise sanitária da covid-19— uma outra projeção, a “Economia das Favelas”, ligada aos institutos Data Favela e Locomotiva, apontou que cerca de 13,6 milhões de pessoas se reconhecem como moradoras de comunidades, e que, em média, possuem renda mensal média de R$ 734,00. No estado do Rio de Janeiro, de acordo com a pesquisa, 13% da população vive nesse tipo de comunidade. Em São Paulo, são 7%, em Pernambuco, 10%, e no Pará, 17%.
Naquele mesmo ano, sete em cada dez moradores de favelas sofreram redução da renda. Em maioria, 72% disseram que não tinham economias às quais poderiam recorrer, enquanto 15% relataram poupança para o período de um mês. Ao todo, 86% das famílias teriam dificuldades para comprar comida dentro de um prazo estendido.
Impactos políticos/eleitorais
Apesar de Lula aparecer na liderança entre os moradores de favelas, os números atuais não deixam de evidenciar uma força política de Bolsonaro em meio à parcela mais carente da população. O mandatário crava um cenário quase igualado com o esquerdista em um reduto onde quase todos os moradores são de baixa renda.
Ao longo de décadas, o Partido dos Trabalhadores (PT), além de outras legendas do espectro político de esquerda, adotaram discursos e posições que tomavam para si a defesa de pautas relacionadas à camada mais pobre da população brasileira. O lulopetismo, especialmente na região Nordeste, recebeu votos expressivos deste grupo social em diversas disputas municipais e gerais.
No entanto, apesar dos anos de glórias, os últimos pleitos mostram uma redução histórica em desfavor do PT, liderado por Luiz Inácio. Em 2016, por exemplo, a legenda perdeu mais da metade das prefeituras que tinha em 2012. Ao todo, foram 374 cidades a menos sob o comando da sigla.
Em 2018, o cenário desfavorável se repetiu. O PT perdeu votos em todas regiões do país — sob isolamento político no Nordeste. Apenas nesta região do país obteve votação parecida com anos anteriores.
Dois anos depois, na eleição seguinte, o que era ruim ficou ainda pior. O PT não conseguiu eleger prefeito em nenhuma das capitais pela primeira vez desde o período da redemocratização. E, desse modo, o lulopetismo sofreu sua maior derrota da história nas Eleições 2020, com todos os seus representantes fora das capitais do país.
Agora, com o advento das eleições de outubro, infla a polarização e reacende o clima de incertezas para ala da esquerda brasileira. Apesar de institutos de pesquisas mostrarem dados que favorecem a candidatura Lula, dados históricos dos últimos pleitos sinalizam favoravelmente a Bolsonaro, assim como o antipetismo, além da mudança de rota no cenário econômico, potencializado pelo ‘pacote de bondades’ aprovado pelo Congresso, que cria novos benefícios sociais até o fim do ano.
Com prazo final fixado em 31 de dezembro, o governo federal irá desembolsar mais de R$ 41 bilhões em uma série de medidas, incluindo Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família. Outros programas também estão inclusos, como auxílios para caminhoneiros de R$ 1 mil reais mensais, além de ampliar suporte aos mais pobres para comprar botijões de gás, ajudando também os taxistas, em meio à escalada nos preços dos combustíveis.