Não há como negar: a cada dia o Brasil está mais e mais polarizado. Essa dualidade política, evidenciada com afinco em 2016, durante o período de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), continua marcando presença no país. A perpetuação é tão expressiva que, na visão de muitos, existem ‘muralhas invisíveis’ dividindo a sociedade.
Há quem diga, inclusive, que essas muralhas separaram colegas de trabalho, amigos, irmãos, casais e até mesmo os tradicionais encontros familiares. Como se sabe, os governos não são eternos, e tendem a chegar ao fim em determinado momento da vida. No entanto, há também quem diga que o ‘abismo’ criado entre todas essas relações permanecerá, porque ele não é mais político, apenas, mas cultural, no sentido lato, passando a fazer parte do nosso cotidiano, da nossa visão de mundo.
Se o brasileiro não desiste nunca, como diz o ditado, tomara que um dia possamos superar todas essas segregações que nos rodeiam. Afinal, para onde quer que se olhe, a sociedade brasileira parece conflagrada por embates entre valores conservadores e progressistas. Seja em uma discussão informal com pessoas da família, ou em políticas públicas estatais — constantemente nos vemos no centro de debates que despertam posicionamentos firmes, como aborto, casamento gay, drogas, população carcerária, violência no país e a própria definição do que é família, entre outros.
O início de uma ‘guerra’ travada
O que antes, de modo mais intenso, estava centrado exclusivamente em sessões políticas, deixou de ser assunto federalista, e passou a ser realidade diária nas instituições de ensino — especialmente na vida de estudantes, pais de alunos, autoridades e especialistas, que se veem em um ‘ringue ideológico’ que envolve temáticas como ensino religioso, educação sexual e, sem deixar de fora, as constantes denúncias de doutrinação político-partidária dentro das escolas e universidades.
Por consequência, temos visto posições cada vez mais polêmicas sobre esses e outros temas, sustentados em espectros políticos inclinados à esquerda, dominando o espaço na imprensa e, em pouco tempo, mobilizando ativistas para fomentar e pressionar a opinião pública. O que pode parecer um ambiente propício aos eixos democráticos, na verdade ocorre de modo totalmente ao contrário. Na prática, tem sido cada vez mais reduzida a abertura para o diálogo, sem conceder o direito mínimo ao contraditório, colocando em risco as bases democráticas e o futuro do país.
A partir desse conjunto de fatores, a expressão ‘guerra cultural’ traz à tona a barbárie dos momentos vividos hoje pelo Brasil, cuja característica é fruto de um conflito entre visões de mundo pautadas por valores morais, ocasionado por um grande realinhamento da cultura e dos costumes nas últimas décadas.
O desencadear do progressismo sob militância equipada
Até meados do século 20, as divergências sociais ocorriam amplamente em um debate público ainda pautado por questões sustentadas em pilares conservadores. Isso começou a mudar a partir dos anos 1960, em parte devido às consequências deixadas pelo regime militar, marcado por intensos excessos, incluindo períodos de tortura e repressão, além do inchaço da máquina pública e dos altos números da inflação naquela época.
Enquanto o país passava por transformações sociais, os comunistas daquele tempo já tinham em mente que as batalhas não mais seriam travadas em guerrilhas, mas no combate cultural. Em contrapartida, os militares insistiam em vencer suas imposições por meio do conflito bélico. Um erro crasso.
Mais numerosa, a sociedade brasileira ficou mais secularizada, com bandeiras antagônicas a coisas que antes eram consenso moral. O campo progressista avançou ainda mais, impondo mudanças abruptas em tempo. Com isso, a esquerda ganhou cada vez mais atuação, espaço e visibilidade. Ainda assim, é importante dizer que, apesar de toda a exuberância em volta, a esquerda nunca conseguiu expressar os reais interesses da população brasileira, especialmente por não conseguir dialogar com questões de pautas morais que tragam para a sociedade a representação exata do que a população é, pense e almeje. Com base nisso, todo símbolo de expressividade se dá, por assim dizer, em estratégias calculadas em fatores de organização, sonoridade ecoada por muitos gritos de uma militância de minoria, extremamente barulhenta, que não se reflete em quantidade nem incorporação dos anseios representativos do país e seus respectivos cidadãos.
Como se pode ver, o Brasil atravessa uma grande crise representativa, tendo a ‘guerra cultural’ como um verdadeiro palco em que, uma vez inserida as devidas peças, busca-se vencer a batalha com narrativas, efeitos discursivos e, por último, a dominação cultural. Assim, o brasileiro necessita ter o real entendimento a respeito de uma consciência política, social, cultural e histórica, resgatando para si os símbolos de uma memória nacional, um imaginário coletivo.
O que não te contaram sobre a Brasil Paralelo
Na contramão de toda essa acossa segregacionista, está uma empresa de educação e entretenimento com sede em São Paulo (SP). Com mais de 260 mil assinantes, a Brasil Paralelo afirma querer “resgatar bons valores, ideias e sentimentos nos brasileiros”.
Ao longo de toda a história de 5 anos, a empresa já elaborou diversos conteúdos que se chocam frontalmente com o discurso de hegemonia cultural que foi imposto nas últimas décadas.
A Brasil Paralelo se tornou conhecida por criar obras que são dissonantes das perspectivas de mundo mainstream. Como sabemos, as produções culturais, audiovisuais e literárias foram povoadas por teses, teorias e visões que afrontam os princípios mais nobres da sociedade.
Com base nessa proposta, de recuperar o que a empresa classifica como bons valores, ideias e sentimentos, a ‘BP’ se tornou a maior desenvolvedora de documentários do país e, nos últimos meses, apostou em novos formatos e anunciou uma plataforma de streaming com conteúdos selecionados. O slogan, bem sugestivo, diz: “Aperte o play sem medo”.
Vivenciando um crescimento avassalador, o objetivo é tornar-se o veículo de comunicação mais influente no ecossistema cultural brasileiro. Há quem duvide dessa pretensão que, para quem está de fora, pode soar utópica ou pouco provável. No entanto, os números mostram que a intenção deixou de ser um sonho distante.
“Analisando o nosso crescimento, percebemos que os nossos cinco primeiros anos são mais bem sucedidos do que os cinco primeiros anos da Rede Globo”, afirma o site da produtora, em menção à emissora brasileira que é líder absoluta em audiência e cujo faturamento e audiência chega a ser mais que o dobro de suas principais concorrentes.