Desde os primeiros dias da pandemia da Covid-19 no Brasil, governos estaduais e municipais decretaram uma série de restrições em um esforço para retardar a disseminação do vírus no país. Restaurantes foram fechados, concertos e eventos esportivos cancelados, as capacidades das lojas foram limitadas e as missas, cultos e outros encontros religiosos foram interrompidos. Tudo isso, sem dúvida, gerou uma mudança repentina e sísmica no modo de vida brasileiro.
Os principais efeitos da crise sanitária também foram sentidos pela comunidade religiosa, afetada brutalmente desde o início da disseminação da doença. Em geral, os fiéis cumpriram integralmente as ordens relativas aos serviços de adoração, no entanto, muitos também expressaram preocupação com essa regulamentação da vida religiosa. A partir disso, alguns grupos foram surgindo para questionar as restrições determinadas pelo Estado. Além disso, houve claras lacunas políticas-partidárias que coincidiam com o apoio ou oposição a essas restrições.
Via de regra, as duras medidas adotadas contra a Covid-19 às igrejas refletem a crescente onda de autoritarismo que assola o mundo, incluindo o Brasil, e que está prestes a desempenhar um papel importante nas futuras – e, de muitas maneiras, nas atuais gerações. Enquanto parte dos locais de culto cumpriu a transição sem maiores intervenções – outros apresentaram maior dificuldade para reuniões on-line ou com uma série de exigências para atender aos requisitos das ordenanças e recomendações. Em sinal de luta, igrejas e movimentos têm argumentado que essas ordens violam seus direitos constitucionais. Alguns chegam a dizer que essas determinações são uma clara evidência de perseguição contra pessoas de fé e que, por isso, devem ser combatidas não apenas por critérios legais, mas também por razões morais e teológicas.
À medida que as igrejas começaram a desafiar e objetar certas restrições aos cultos de adoração, diversos grupos de outros segmentos da sociedade se juntaram à briga, especialmente pela limitação aos serviços presenciais.
Os detalhes que constituem essas lutas legais são obviamente diferentes entre os locais, mas as igrejas no centro dessas disputas tendem a fazer um argumento semelhante: ordens estaduais, municipais e federais regulando casas de culto de forma diferente de outras entidades – ou mesmo regulamentando-as – entram em conflito com a Constituição Federal. Este é um argumento que os grupos jurídicos cristãos têm sustentado com afinco. Ao mesmo tempo, atraindo um público mais amplo, esses grupos costumam apontar temores de agravamento da segregação no país.
Divergências jurídicas
Recentemente, uma das contestações legais às restrições relacionadas à pandemia ocorreu no Rio, por meio de uma decisão do desembargador Paulo Vieira, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). No dia 29 de setembro, conforme registrou o Conexão Política, o magistrado suspendeu os efeitos do decreto municipal que estabelecia a exigência do chamado ‘passaporte sanitário’.
A medida decretada pelo prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), estabeleceu a apresentação do documento vacinal em locais como academias, cinemas, estádios, entre outros.
Na ocasião, a decisão atendeu a uma solicitação de uma aposentada que, mediante o decreto, alegou que o direito de ir e vir estava ‘cerceado’. A partir da resolução, o desembargador determinou a notificação das polícias Federal e Militar, a Guarda Municipal e o Exército.
Na liminar, Vieira sustentou que a medida impede “os cidadãos cumpridores dos seus deveres de andar livremente pelas ruas da sua cidade” – comparando, inclusive, o tratamento dado aos não vacinados com outras perseguições históricas, como a contra os judeus.
“Quem é o novo inimigo de hoje em pleno Século XXI? OS NÃO VACINADOS. Querem obrigar as pessoas a se vacinar e em nome dessa bondade cerceiam liberdades públicas, prendem pessoas nas ruas, nas praças, fecham praias, estabelecem lockdown. Nunca imaginei que fosse assistir aos abusos que assisti”, escreveu o magistrado.
“Medo, portanto, não é um sentimento novo, nem é descoberta do século XXI. É algo que persegue a civilização humana desde a antiguidade, passando pela idade média, pela era moderna, e chegando ao mundo contemporâneo, cada qual com seus fantasmas e mitos inerentes à época (…) Tudo sempre em nome de um medo coletivo que se teve dos inimigos escolhidos pelo sistema da época (…) Tudo sempre muito bem engendrado, politicamente”, completou.
Apesar disso, a decisão de segunda instância não vigorou por muito tempo. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, restabeleceu o decreto da prefeitura do Rio de Janeiro e manteve a exigência de apresentação da comprovação de vacinação contra a Covid-19 para acessar locais fechados.
Na decisão, Fux analisou recurso da Procuradoria-Geral do Município (PGM) e reiterou a posição da Suprema Corte no sentido de que governadores e prefeitos têm, sim, competência para estabelecer medidas sanitárias contra a pandemia.
Relatos de violação
Autoridades sanitárias da Secretaria Municipal de Saúde de Botuverá, município do interior de Santa Catarina, e agentes da Vigilância Sanitária – acompanhados por policiais militares – interromperam a celebração de uma missa de Crisma. O caso aconteceu em novembro do ano passado.
A celebração religiosa na Paróquia São José era presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Florianópolis, Wilson Tadeu Jönck, e precisou ser encerrada antes do rito de Comunhão.
De acordo com a prefeitura de Botuverá, a interrupção precisou ser tomada porque a celebração estaria em desacordo com as ações para frear a transmissão da Covid-19.
Em nota oficial, o Executivo municipal destacou que a resolução se baseou na Portaria 821, publicada anteriormente pela Secretaria Estadual de Saúde de Santa Catarina. Em seu artigo 2º, a norma determina que, nas regiões que estiverem em Matriz de Risco Potencial Gravíssimo, como é o caso da área em que a paróquia está localizada, fica proibida a realização de eventos sociais.
O assunto gerou revolta no estado de Santa Catarina e acarretou na reação do arcebispo de Florianópolis, Wilson Tadeu Jönck, ampliando ainda mais os questionamentos em torno das restrições estabelecidas pelas autoridades. Na ocasião, quem celebrava a missa era o próprio arcebispo Jönck.
À época, em comunicado, o líder religioso garantiu que as diretrizes de prevenção ao vírus foram obedecidas e classificou a ação como perseguição contra cristãos.
“Pessoalmente, a parte que mais me feriu foi a ordem de interromper a santa missa. E foram repetidas ameaças de que iriam entrar e acabar com a celebração. Preciso dizer que a celebração da missa não se interrompe na metade. Nos mais de 40 anos de sacerdócio, isto nunca me aconteceu”, escreveu.
Cenário semelhante
Em julho deste ano, a Polícia Militar foi acionada para interromper uma reunião religiosa que acontecia em uma igreja no bairro Coroa do Meio, Zona Sul de Aracaju (SE). Sob a justificativa de aglomeração, os agentes determinaram o encerramento do culto evangélico e dispersaram todo o público presente.
A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito de Aracaju (SMTT) foi mobilizada para dar suporte na retirada das pessoas e orientar o trânsito no local. A Guarda Municipal de Aracaju (GMA) também foi acionada.
À época, os representantes da instituição não falaram sobre o assunto.
Decreto e exigências
Diante de tantos confrontos entre autoridades públicas e o segmento religioso no país, o mês de setembro marcou mais um conflito depois de o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), determinar que igrejas e templos deveriam exigir a apresentação dos comprovantes do esquema vacinal completo e/ou resultados negativos para Covid.
A regra consta em um decreto assinado pelo mandatário e publicado no dia 27 de setembro de 2021 em edição extra do Diário Oficial de Pernambuco.
O ato imediatamente foi alvo de críticas. Representantes da União Nacional das Igrejas e pastores evangélicos em Pernambuco entregaram uma carta de repúdio ao decreto. No texto, o grupo destaca que a exigência é arbitrária e inconstitucional, já que restringe a liberdade religiosa.
A reação incisiva também ocorreu por parte de juristas, entre eles o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR), Jean Regina. Em entrevista ao portal R7, o jurista afirmou que as igrejas têm maturidade suficiente sobre a pandemia e, por consequência, sobre como adotar medidas para evitar a contaminação de seus fiéis.
“Vivemos uma laicidade brasileira que é colaborativa, a Igreja está colaborando com o Estado. As autoridades religiosas já tinham uma maturidade para entender a complexidade do problema. Mas o grande perigo de o Estado criar restrições à liberdade religiosa é que queiram construir raciocínios no sentido de tolher a liberdade religiosa”, declarou.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, a presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), a advogada Edna Zilli, disse que o decreto representa uma medida arbitrária porque, segundo ela, é possível combater a disseminação do vírus com a adoção dos protocolos sanitários já recomendados.
“Não é comum esse tipo de exigência para igrejas, porque fere tanto a liberdade religiosa quanto o direito à objeção de consciência”, explicou.
“Além disso, nem todos tiveram acesso à vacina em todas as etapas da imunização ou possuem meios de fazer exames a cada agenda religiosa, que costuma ser em vários dias da semana”, advertiu.
Entrevista exclusiva
Nas últimas décadas, jovens em diversas partes do mundo têm assumido o protagonismo na luta contra problemas contemporâneos crônicos, desde mudanças do clima até questões de direitos humanos, liberdade religiosa, gênero e direitos LGBTQIA+.
O Conexão Política ouviu, com exclusividade, o pastor Adriel Nogueira da Silva, da igreja Renovar em Cristo, denominação evangélica atuante no estado de Santa Catarina. Bacharel em Direito e mestrando em Direitos Fundamentais, o jovem de 28 anos é responsável por chefiar a juventude da congregação.
Além disso, atua inteiramente na parte administrativa, realizando a coordenação de departamentos, bem como a prestação de assessoria jurídica a todas as atividades relacionadas à instituição.
A partir de agora, Marcos Rocha e Raul Holderf Nascimento trazem um panorama sobre o ativismo jovem no Brasil, especialmente na Região Sul do país, e como essa mobilização tem se refletido no debate público e político sobre temas emblemáticos. Adriel Nogueira tem sido protagonista na luta pela liberdade, cuja causa despertou um movimento no contexto da atual crise sanitária.
Iniciado em meio ao surto da Covid-19, o movimento popular Cristãos Pela Liberdade (CPL) tem travado diversas batalhas em defesa das liberdades individuais e conquistado adesão de diversos segmentos da sociedade civil. Nogueira, que é um dos fundadores da equipe, tem alertado sobre os perigos de o Estado colocar o seu polegar em casas de culto.
Atuantes em Chapecó, cidade localizada à distância de 557km de Florianópolis, o CPL vem se opondo ao autoritarismo em torno das restrições locais. O grupo tem enfatizado a dimensão da liberdade religiosa das igrejas e os direitos de reunião de acordo com Constituição brasileira. Simultaneamente, os integrantes do Cristãos Pela Liberdade têm usado seus eventos para reforçar o alerta sobre a “guerra total contra a fé” durante a pandemia.
Para Adriel, há, sim, interesses obscuros em torno de todos aqueles que insistem em manter as igrejas fechadas e, de forma articulada, atacar a liberdade religiosa no Brasil. Ele também enfatiza que ativistas, políticos e movimentos de esquerda estão usando o surto da doença, que é real e ainda preocupante no país, como justificativa para atacar os cristãos.
“Pessoas de fé estão sob ataque. Você não tem permissão para ir à igreja, mas o caos em massa nas ruas passa despercebido”, relata.
Nesta entrevista ao Conexão Política, Adriel Nogueira da Silva comenta sobre o atual cenário do segmento religioso no país. A seguir, os principais tópicos e trechos do bate-papo exclusivo.
Diagnóstico do atual cenário em relação às liberdades religiosas
O conjunto de discursos de ódio e condutas ofensivas contra adeptos de determinado segmento religioso ou aos elementos, deuses e entidades, não é nenhuma novidade no Brasil. Infelizmente, o que se tem hoje, e não é só no jornalismo, mas também em grandes segmentos da sociedade, e até mesmo nas igrejas, é uma desvirtuação do papel de fundamento da instituição em certas atividades. Não sei se é desinformação, falta de conhecimento, ignorância ou mau-caratismo. É a partir desta necessidade que surge o movimento denominado ‘CRISTÃOS PELA LIBERDADE’, formado por líderes de várias denominações cristãs de Chapecó (SC). O movimento visa levantar uma voz a fim de denunciar os ataques aos institutos jurídicos e sociais responsáveis por assegurar que os direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, em qualquer tempo e circunstâncias, tenham seu livre exercício garantido.
Nós iniciamos este nosso movimento em março deste ano, em virtude de alguns excessos que ocorreram em nosso estado. E, quando nós começamos a ver algumas coisas acontecendo, nós achamos muito perigoso. Não só aqui, mas a corrente global que se desenvolvia. A história normalmente não cria novas histórias, ela repete. Então, quando nós fazemos algumas análises comparativas da tendência global de condução de muitas questões que estão acontecendo, é muito preocupante. Para você ter uma ideia, em nossa cidade, Chapecó, nós tentamos mobilizar entidades religiosas de todos os segmentos, mais de 50 pastores. No entanto, hoje, há apenas quatro. É incrível a desmobilização, a desestruturação e a falta de capacidade de reação da nossas lideranças e das nossas igrejas. E isso nos causa uma preocupação muito grande e faz-nos ver que os nossos aliados não serão lideranças apenas do meio evangélico, protestante, mas serão de segmentos da sociedade que terão a capacidade de discernir o que está acontecendo.
Ações concretas em defesa de garantias fundamentais
A nossa igreja, no ano passado, impetrou mais de 15 medidas administrativas contra as administrações municipal e estadual – e nós fomos os únicos, não teve mais ninguém que se mobilizou, nenhum advogado quis vir conosco. Eu acabei conhecendo alguns promotores do nosso estado, e [atualmente] existe um grupo de promotores mobilizados, membros do MP [Ministério Público], que formam um bloco de resistência. Apesar de a minha ordenança de pastor ser recente, eu vejo muita omissão no segmento religioso. Enquanto isso, no campo universitário, as pessoas se reúnem para falar de pautas, discutir pautas que, por pior que sejam, há uma preocupação séria em torno de uma modelação do tecido social. Ou seja, enquanto nós estamos parados, existem pessoas lá fora discutindo o que farão e como farão. E, diga-se de passagem, agora é tarde. A única coisa que podemos fazer agora é estabelecer um grupo de resistência para que, quando a articulação deles estiver pronta, nós resistirmos. Não há mais como parar essa agenda que está em curso.
E o que realmente chama atenção é que as grandes resistências não estão na igreja, infelizmente, e isso é um fato novo da história, porque a igreja sempre foi referência em defender-se, sempre foi o baluarte da resistência. Isso me chama a atenção. Não sei se é por mau-caratismo, ignorância, não sei. E o que me deixa mais perplexo é a inoperância e a incapacidade de resistência do povo cristão – isso para mim é o mais decepcionante. A igreja sempre foi perseguida, rechaçada, rejeitada – e até hoje é um povo perseguido. Mas [a igreja] sempre teve uma leitura muito coerente das lideranças – fazendo com que elas reagissem à altura.
Tempos de pandemia; esferas de poder e silenciamento da igreja
O que eu vejo é o resultado da subversão que foi construído ao longo de muitas décadas. É evidente que estamos no país em que a cultura dominante é uma cultura oriunda do marxismo cultural. Apesar de o nosso povo ser conservador, a cultura dominante, organizada e de massa sempre vai suprimir a realidade.
É assustador presenciar o fato de que muitos possuem vozes e condições de fazer algo, mas não fazem. E sabemos muito bem que a comunidade da igreja sempre é vista pelas autoridades em período eleitoral. No entanto, o que temos visto são medidas que violam a liberdade religiosa. Cito aqui, por exemplo, a portaria de número 254, da Secretaria de Saúde do Estado, de 2020. Essa portaria chegou ao absurdo de regular como seria servida a santa ceia nas cerimônias religiosas. E essa medida está em vigor até hoje. Eu fui o único a fazer alguma coisa contra esse absurdo – e não falo como mérito, mas porque realmente é assustadora a omissão da nossa sociedade. E eu sei que existem pessoas muito mais inteligentes, influentes, engajadas do que eu. No entanto, se não há essa reação, eu preciso resistir, ainda que sozinho.
Hipocrisia ou justiça divina?
O mais revoltante é que, semanas depois dessa medida, essas mesmas autoridades foram condenadas por improbabilidade administrativa em torno da pandemia. E foram justamente esses que estavam numa posição para dizer como a igreja deveria realizar a santa ceia, como o pastor deveria fazer a visita a fulano de tal, quem deveria ou não frequentar o culto. Eu compreendo, sim, que isso é de acontecer, porque já estamos acostumados com essas ignorâncias, essas perseguições. É incoerente, no entanto, que exista uma forte bancada evangélica no estado, mas que não tem um único nome a se levantar contra. Além disso, o estado de Santa Catarina possui um deputado estadual que é líder de uma das maiores igrejas evangélicas. Existe, lógico, uma supressão da voz da igreja. Isso não é opinião, é fato. Se você for ler os conteúdos dos principais veículos de comunicação do país, vai constar que só há matérias depreciativas contra a comunidade cristã, para colocar pulga atrás da orelha em torno da idoneidade do pastor, do padre. Mesmo cientes de tantas investidas, há uma forte incapacidade de resistência desses grupos religiosos.
O poder do Estado deveria ser imparcial em relação às questões religiosas?
Tanto se fala sobre a bancada evangélica, do Estado laico. Nesse meio-termo, o que vemos é uma ruptura do ideal da laicidade do Estado pelo próprio Estado. Quando o Estado começa a regular cultos, liturgias, quem frequenta, quem não frequenta, quem deve ir ou não, o Estado está se colocando acima da igreja. Se ele se coloca acima da igreja, ele é a entidade ou o ser capaz de gerir a igreja. Ele está tomando o lugar de Deus, né?! Não importa qual seja o pretexto, qual seja o fundamento, a justificativa. Nós vemos a formação do Estado religioso. Qual será o próximo passo? O que será que vem depois? Existem pontos da doutrina da igreja que o Estado não concorda. E se, depois, por exemplo, o Estado baixar uma resolutiva dizendo: ‘você não pode mais falar dessa forma, tem que falar de tal forma senão vai ofender determinado grupo de pessoas’. E aí?
Quando fomos realizar esses atos nas ruas [em referência às atividades do movimento Cristãos Pela Liberdade], os principais veículos de comunicação classificaram o nosso movimento como supremacista branco, grupo nazifascista, entre outros jargões. Que eles não gostam da gente, isso já sabemos. E, justamente isso, evidencia o amplo interesse dos veículos de comunicação em suprimir as nossas vozes.
Oposição dos veículos de comunicação e o entendimento sobre vacinas
É importante este espaço concedido para pontuar algumas posições primordiais. A nossa luta não é contra a vacina. Não é uma coisa que nós labutamos porque envolve a liberdade de escolha. O que estamos tratando são as liberdades que estão sendo banidas. Falar que somos contra a vacina é mentira. É mentira. Eu tenho visto, inclusive, muitos pastores que estão dizendo claramente, no púlpito, que na igreja deles só entrarão vacinados, quem estiver com o devido cartão vacinal. A meu ver, eles estão chamando para si uma condenação. Fica evidente que há uma mobilização em torno disso. No entanto, o nosso posicionamento está em torno da liberdade. Se você quer se vacinar, se vacine. Se não quer, não se vacine.
Agenda globalista e seus desdobramentos
Agora é tarde. Não há mais como parar essa avalanche impregnada na sociedade. Em razão disso, precisamos ser a resistência. E se as demais lideranças cristãs não acordarem agora, muito em breve estaremos pregando o que o Estado mandar a gente pregar. As escrituras condenam fazer acepção de pessoas. A partir do momento em que você proíbe alguém de frequentar, um não vacinado, por exemplo, de ir à igreja, frequentar o culto, você está rasgando o que Bíblia genuinamente ensina. O exercício da fé deve ser viabilizado por todo mundo e é algo que ninguém pode fazer por você. Um outro ponto que levanto aqui é: como é que esses pastores [vão agir] se, daqui a pouco, alguém processar a igreja deles por discriminação? Quando a portaria X foi estabelecida em Santa Catarina, eu entrei com um mandado de segurança porque, conforme a resolução, uma pessoa acima de 60 anos não poderia frequentar os cultos devido à pandemia. Isso é um absurdo. É inviabilizar o exercício da fé da pessoa, que é constitucional. E vale destacar, outra vez, que há muitos pontos do fundamento e princípios da fé cristã que divergem dos princípios e fundamentos do Estado.
Cenário atual em paralelo aos tempos bíblicos
O que muitos pastores utilizam é [o livro de] Romanos, que diz que toda autoridade é instituída por Deus. Mas, em Atos 5, Pedro passou por uma situação bem semelhante ao [contexto] que estamos passando agora. Ele estava pregando, falando e tal, e depois o Sinédrio, que era a corte da época, o chamou e disse que ele deveria parar de pregar. Pedro disse que estava pregando sobre Jesus. O mesmo Jesus que eles pregaram na cruz e mataram. E eles insistiram em pedir que Pedro pregasse, mas não falasse sobre Jesus. E eles estavam temerosos, porque sabiam que o povo estava com Pedro. E qual foi a resposta de Pedro? A clássica: se é pra escolher entre a autoridade de vocês ou o mandamento e a autoridade do Cristo, mais importa obedecer a Deus do que aos homens. Ou seja, o que Pedro nos ensinou é: no momento em que eu tiver um conflito de autoridade entre vocês e a minha autoridade Suprema, eu sei muito bem a quem escolher. E não adianta dizer que a fé pode estar no coração. Não é uma autoridade estatal que vai dizer como é que você pode exercitar a sua fé. Não é alguém que deve dizer, pois é uma discussão eclesiástica, doutrinária.
Por isso, fica cada vez mais claro que, ao segregar, dizer que quem pode entrar na igreja é só quem é vacinado, quem tem teste negativado ou algo do tipo, é prática manifesta acepção de pessoas, coisas voltadas às autoridades terrenas. Mostra claramente que esta autoridade se rebelou contra a autoridade divina que permitiu que ele estivesse ali [ocupando determinado cargo]. Isto posto, cabe escolher sob qual guarda-chuva iremos ficar. A nossa posição é essa. A autoridade terrena não pode ser superior à autoridade divina sob qual está fundamentada a nossa fé.
Lideranças inertes e intimidações
O que está acontecendo é inacreditável. Essa incapacidade da igreja de resistir e de se opor a tudo que vem acontecendo é muito preocupante. O que deveria ser feito pelas lideranças diante de todas essas afrontas? Os cristãos deveriam estar pressionando de ponta a ponta, sem recuar. Devemos pressionar os políticos de perto, externar a nossa voz, cobrar dos vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores. O político teme a mobilização popular. A mobilização popular é a maior força política que existe, contra ela não há nada que segure. Por isso, se tivéssemos todas as nossas igrejas juntas, unidas, conseguiríamos vencer muitas batalhas.
A verdade é que, infelizmente, grande parte das lideranças cristãs estão abraçadas com projetos que não são genuínos da igreja de Cristo. Eu nunca imaginaria que vivenciaria tudo isso que está acontecendo. Tantas vezes sentamos para conversar com padres, pastores, e eles fingem que nada está acontecendo, ou que não tem nada a ver. E a verdade é que, no final de tudo, vai sobrar para nós. Vai ser uma herança amarga deixada para as próximas gerações. E cada vez mais a ‘igreja globalizada’ tem sido consolidada por meio de uma adaptação, fazendo com que ela seja um mecanismo que caminhe junto, que não se envolva em atritos. Tudo isso, claro, é fruto do universalismo, uma doutrina herege.
Líderes eclesiásticos influenciados pela mídia
Temos uma geração de líderes e pastores sem entender do contexto político e social que eles vivem – incapazes de sequer fazer uma leitura. Como é que você vai tomar um posicionamento correto hoje em relação às coisas que existem no futuro sem saber os acontecimentos históricos que permeiam o que nos trouxe aqui? Isso é impossível. Então, nós temos uma geração toda formada na ignorância e lendo notícias de jornal. Eu sei porque conheço muitos pastores e a instrução política/jurídica que eles têm é o Diário Catarinense. A coluna de fulano de tal. E eles usam isso para pautar as decisões deles e posicionamentos. Como é que uma pessoa dessa, como líder religioso, vai ocupar uma cadeira para discutir uma formação do Estado, uma interferência ou não do Estado? A nossa geração é incapaz de se aprofundar no que de fato é relevante.
A força do clero
É preocupante o nível de inacessibilidade das autoridades religiosas nos tempos de hoje, para além da ausência de harmonia para lutarmos sobre valores primordiais da fé. É preciso, não só ir em busca dos nossos objetivos, mas nos articularmos de forma coordenada. Afinal, a maior organização capaz de derrubar o autoritarismo em série é, sem sombras de dúvidas, a igreja. Temos um poder massivo, de nos organizar, nos mobilizar e impor pautas que venham ser atendidas. A igreja oferece um risco gigantesco ao estamento burocrático. Por isso que somos tão rejeitados, suprimidos, combatidos. É dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em relação a esse cenário.
Ao mesmo tempo que certamente desejamos obedecer às leis, como o apóstolo Paulo nos exorta a fazer em Romanos 13:1-2, ‘Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação‘, a Suprema Corte brasileira foi para além de sua competência, em inócua decisão relativa à ADPF 811 [que suspendeu a realização de cultos, missas e demais atividades religiosas de caráter coletivo]. Este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso país à prova, exige de suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados. Somos convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios, de nossas liberdades.
Confira abaixo imagens de ações do movimento Cristãos Pela Liberdade.