‘Houve uma revolução contra o establishment‘
Dentro do debate político brasileiro, em geral, e da direita, em particular, há um termo popularizado que é o “Nova Direita”, que todos falam, porém sempre de forma subjetiva, vaga ou “errada”, para acatar rivais ou pôr-se limpo de um passado histórico ideológico.
Sabe-se que a direita brasileira sofreu uma grande derrota já na época do Regime Militar. Época que, apesar de ser um regime mais positivista propriamente dito (diferente do que o regime de Pinochet, no Chile, foi), a direita estava com o poder legal; a esquerda, contudo, implacável, já estava com o poder mais importante, a saber – o cultural. Eis aí mais uma prova de que as Instituições não são – nem devem ser – as produtoras do desejo humano, como pensa um positivista. Pois é a partir da relação individual que faz-se a cultura e é a cultura que renova o poder positivo — visão que a new e a old direita tendem compartilhar —, para levar qualquer rousseauniano à loucura.
Então, Nova Direita viria a ser, talvez, um espírito popular, cada vez mais acesso, vigorante nos novos pensadores, sejam eles ativistas ou não, que contemple o indivíduo e sua tradição. E recusando qualquer coisa que pareça ser um coletivo “pessoal”, como costuma-se ver hoje a sociedade, caindo assim numa falácia abstrativista generalista. Mas há os “poréns”.
Vê-se conservador à moda Ibérica dizendo, de forma repreensiva, que isso tudo é a ascensão da influência da direita britânica, ou seja, liberal, no Brasil. Isto é, que tal liberalismo causaria um enfraquecimento tanto nas Instituições (que podem ser atacadas por forças externas) quanto na cultura, de origem lusa, com sua diluição em meio às influências secularistas. Deveras este é um problema que existe, e deve-se atentar a ele.
Já os direitistas à moda inglesa se dividem: há o que, recusando a tradição luso-descendente brasileira altamente estadista (sic), se diz da própria Nova Direita; e o que descreve a Nova Direita como um movimento demasiado ideológico levado a um certo niilismo que vê a política como passo para o progresso, não das coisas, mas sim do espírito humano. Isso configura-se como um relativismo da essência ontológica do Ser, postergando ao Estado o dever de nos moldar. No Brasil há, realmente, essa ideia de pôr o Estado como elo para um mundo perfeito, e não como deve ser: um obstáculos ao mundo do cão. O Estado mínimo liberal seria, para esses últimos, escolha acertada para conter o avanço dessas ideologias e estimular o avanço da cultura, da família etc.
Há também, para completar, aqueles de esquerda dizendo – usando este mesmo termo: Nova Direita – que são bolsonaristas raivosos poluindo a política nacional; e, o que é caótica para os cientistas políticos, também chamando de guinada do neoliberalismo — liberalismo sendo, então, apenas por meios socialistas, já que igualdade é liberdade (sic e risos). Decerto, o novo movimento, para o lamento da esquerda, não é tucano, portanto, é de direita, para o lamento da esquerda, novamente: que pensa ser um movimento de extremistas, já que para eles Fernando Henrique Cardoso, e os de mesma estirpe, é da direita; e a Marina Silva, uma, ainda, conservadora (sic e mais risos).
Também não é uma ação militarista querendo a volta do Regime Militar, pois, desde o final desse, isso já existe.
Todavia, o termo já é utilizado no exterior. Roger Scruton, por exemplo, em Como Ser Um Conservador, narra o estado que se encontrava a Inglaterra no pós-guerra — pois nas guerras há a logística, normal delas, para organizar recursos que acabam por transformar o funcionamento da sociedade: cujo teve consequência num forte engessamento no social pela máquina política, na terra da Rainha. Lá, como ele nos diz, a educação estava entregue aos socialista e a economia nas mãos dos gestores (lembre-se: aqueles educam estes); enquanto os conservadores preocupavam-se em governar, semelhante ao Brasil — no domínio das Instituições estatais, e na derrota nos meios próximos ao campo cultural —, porém diferente em questões ideológicas e político-social. Havia uma estranha comodidade dos conservadores, políticos bastante aristocratas, para com a coisa política, situação confortável aos socialistas que dominavam no discurso de igualdade e planificação econômica.
Isso tudo descambou numa crise Institucional e numa descrença popular, fator que abriu espaço para a guinada de Margareth Thatcher e todos seus apoiadores, os thatchenianos; movimento que foi se repetir nos EUA com Ronald Reagan. Desejo de liberdade econômica por vários novos político, em geral, e por Thatcher, em particular — para adentrar novamente no foco de Scruton — que flexibilizou o funcionamento político-social e deu à Inglaterra nova chance de recomeçar com suas tradições, de raiz empirista, do homem explorar para buscar a melhor forma de fazer suas atividades; e não por meio do planejamento burocrata, como antes. Eis que se viu pela primeira vez de forma mais clara e prática de que liberdade não é necessariamente igualdade, e que esta só por meio daquela.
Tem-se hoje no Brasil, diga-se novamente, uma situação semelhante, onde o Estado não consegue desenhar o mercado – nem poderia, como bem mostra Ludwig von Mises com sua praxeologia –, e com o escopo burocrático inviabilizando a livre iniciativa – no sentido lato da coisa -. Como lá, aqui houve uma revolução contra o establishment, que prorroga autonomia e a afirmação dos valores essenciais, os tradicionais. A isso faz chamar-se de Nova Direita e que pode-se incluir ao mesmo tempo diversos tipos de conservadorismo e liberalismo clássico: é sem dúvida uma nova forma de fazer política usando as boas e velhas ideias, que por serem novas em suas práticas estarão sujeitas a erros e às críticas de fora e de dentro da própria Nova ou Velha direita.